A lacuna entre pesquisa e o mercado.

* Por Rene Jose Rodrigues Fernandes

Imagine um teatro lotado, com um público ansioso pelo início do espetáculo. No palco, atores talentosos aguardam para entrar em cena. Mas as cortinas estão cerradas – e assim permanecerão. Esta é a situação da inovação no meio acadêmico no Brasil. De um lado existe um mercado ávido por novos produtos e serviços. Do outro, escondidos, pesquisadores em busca de novidades e soluções. Alguns teóricos chamam a tal cortina de hiato entre a invenção e a inovação. Eu considero este hiato ideal para disseminar a cultura empreendedora. Afinal, a criação de novos negócios, especialmente pequenos e médios, é a grande responsável pelo crescimento econômico de um país.

É em razão desse cenário que surgiram alguns programas que buscam mostrar o empreendedorismo como alternativa para que as melhores pesquisas cheguem ao mercado.  Com este espírito, o Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getulio Vargas (FGVcenn) promoveu em 2008, pela primeira vez no Brasil, a versão latino-americana do Idea to Product, uma competição global idealizada pelo professor Steven P. Nichols, da Universidade do Texas, em 2002. Na final latino-americana de 2008, todas as 16 idéias concorrentes tinham potencial mercadológico. A equipe vencedora, a Medicine for Life, da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), ficou com o segundo lugar na grande final nos EUA, que reúne os vencedores de diversas disputas internacionais. O resultado nos faz imaginar quantas soluções relevantes podem ser descortinadas no Brasil. A inovação da Medicine for Life é um kit criado pelo médico Geraldo Vitral que localiza com precisão o câncer de mama. O produto já tem pedido de patente registrada em vários países e, logo após participar das competições, foi licenciado a uma grande empresa nacional, gerando dividendos ao país.

Em 2009 o FGVcenn teve uma vitória ainda maior. Além de contar com 27 inscritos de alta qualidade, o time Nanoita, da UNESP e UEPG, ganhador da etapa latino-americana, foi o campeão mundial do Idea to Product. O aluno Thiago Sequinel, orientado pelo professor da UEPG Sergio Tebcherani e o professor da UNESP José Arana Varela, apresentou uma tecnologia que permite transformar pisos, azulejos e louças em superfícies bactericidas. O produto que será originado desta idéia tem um grande mercado a ser explorado em hospitais e instalações de saúde. Desde os resultados das competições o Nanoita já recebeu várias consultas de empresas produtoras de cerâmicas interessadas em agregar a tecnologia às suas linhas de produção.

Estes resultados de sucesso, contudo, são escassos. Falta uma comunicação permanente entre o universo das pesquisas e o mundo dos negócios, leis favoráveis ao empreendedorismo e fontes de financiamento a baixo custo. Isto contribui para que o Brasil fique em péssima posição no quesito inovação, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Enquanto a média de patentes nos países membros é de 60 em cada mil habitantes economicamente ativos, por aqui, este número é próximo de zero.

Em 1934 o economista austríaco Joseph Schumpeter chamou o empreendedor de “a mola fundamental do desenvolvimento econômico” e o apresentou como “aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização ou pela exploração de novos recursos e materiais”. Logo após a crise de 29, Schumpeter apresentou o empreendedor como a figura central do desenvolvimento sustentável do capitalismo. No atual cenário econômico a inovação deve voltar a ser protagonistas da história.

*Rene Jose Rodrigues Fernandes é diretor de projetos do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getulio Vargas – SP (FGVcenn), onde é responsável pela competição internacional de planos de negócios “Latin Moot Corp” e pela competição latino-americana de produtos inovadores “Idea to Product Latin America”. Email: rene.rodrigues@fgv.br. Twitter: renejrfernandes.

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